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Leia-me

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Faz tempo que não escrevo. Bem, para os meus moldes, faz tempo. Escrever é uma das minhas mais delicadas linguagens, tanto para comigo, quanto para quem presenteio ou mesmo para quem nem me conhece e tem alguma curiosidade para me ler. Me ler. Isso é melhor que um “te amo”. Te amo é falado de qualquer modo, vira lugar comum, expressão corriqueira para demonstrar um sentimento que está posto – e nem por isso tem menos valor. Mas “me ler” tem um significado muito mais profundo em minhas emoções. Assim como substituir o “tchau” por um “te amo” pode ser algo banal, alguém pode me ler e não entender, não assimilar, não prestar a menor atenção. Mas quando alguém me lê e compreende o dito, o não dito, as entrelinhas, as métricas, o caps lock, o sussurro, não importa, porque quando alguém me lê eu me sinto contemplada. Tudo bem se for apenas um ego que gosta de afago (e qual não gosta?!), tudo bem se a leitura se resumir a um capitulo, uma página, uma frase, uma palavra. Não é uma questão ...

Oxitocina

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Hoje é um daqueles dias que eu não queria estar sozinha. Hoje eu precisava chegar em casa e ter conforto, um abraço quente, uma comida quente, um cafuné e uma fala dizendo “tá tudo bem” seguida de silêncio. Hoje é um daqueles dias que seria preciso apenas estar, sem qualquer outro tipo de ação. Quem me vê não imagina o tamanho da minha fragilidade, não tem noção do quanto sou sensível e do quanto também preciso de cuidados. Ao longo dos meus anos de vida eu busquei esses confortos em colos despreparados, em companhias rasas e vazias, em pequenos vícios, em amizades fugazes, até que depois de muito tempo, encontrei o colo em mim mesma. Não como alguém isolado e autossuficiente, mas como alguém que compreende suas próprias forças e fraquezas e que aprendeu a lidar com cada uma delas. A gente não pode confundir autoconhecimento com autossuficiência. Nós somos seres relacionais, nossa sobrevivência ancestral é em bando e o isolamento é uma das ferramentas para a extinção da humanidade,...

Detox Digital

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Coisa mais estranha é abrir o word para escrever minhas coisas e me deparar com três opções de textos para redigir que o Copilot , com base nos meus últimos arquivos, sugere. Sem contar com esse símbolo que fica ao lado de cada parágrafo, para que eu possa corrigir ou melhorar meu texto. Eu ando muito cansada de tanta interferência em atividades que eram pra ser prazerosas. Entendo a agilidade da IA na elaboração de textos técnicos e corporativos, que exigem uma métrica idêntica, tem um regramento para seguir e ela organiza isso pra gente, mas não me agrada a interferência em nossas ideias, em nosso jeito de escrever, no sentimento que queremos passar por meio de algo tão único como a linguagem. Sim, a linguagem é única e universal ao mesmo tempo. Não é bonito isso?! De uma coisa poder ser tantas e tão pouca ao mesmo tempo?! E vem a IA e quer se apoderar disso também? Bem, não sou tão ingênua assim pra achar que os robôs invadiram nossas vidas e estamos cada vez mais próximos de vi...

Eu só existo no olhar do outro?

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Fiz análise por muito anos. Foram várias as fases da minha vida em que senti a necessidade de ter esse suporte para me apoiar a atravessar tempestades e maremotos, mas recentemente eu optei por pausar. Foi uma pausa “consensual”, no sentido de que minha analista já vinha fazendo esse convite, de que eu estava em boas condições psíquicas de lidar com as questões da minha vida. Desde que ela sinalizou isso, levei ainda uns 3 meses pra admitir que sim, que eu também queria viver comigo mesma, pois já não sentia a necessidade constante de ter um apoio além de mim mesma. E assim tem sido nos últimos 2 meses. Está sendo uma experiência bem nova e muito reconfortante essa de viver sabendo as decisões que tomar. Opa, vou corrigir essa fala. Sabendo não, simplesmente tomando as decisões, mas sem a insegurança tremenda se o que estou fazendo é certo ou errado. Tomo a decisão e tenho tido a segurança de me sentir à vontade com a consequência. Às vezes dá super certo, às vezes machuca, mas nenhuma...

Minha segunda percepção sobre o filme Baby Girl

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A primeira vez que vi o filme “Baby Girl” foi no cinema e eu me senti mal do começo ao fim. O filme se mostrou ruim, péssimo, com atores fantásticos interpretando papeis medíocres, com uma mulher sendo objetificada ao mesmo tempo que emula comportamentos masculinos de poder, inclusive, sobre outra mulher. Uma estereotipação dos gêneros, colocando o marido em lugar de “corno manso”, se no Brasil fosse, e o jovem Mucilon exercendo um poder sobre esta mulher madura, independente e “dona da porra toda”, fortalecendo mais uma vez a imagem de que a mulher se perde sempre que encontra um homem que a domine, como se somente assim ela se sentisse completa. Paralelamente ao filme, neste momento, minha vida estava passando por um vácuo de relacionamentos afetivos, em que eu nem sabia se meu corpo sabia o que fazer ao estar próximo de outro corpo. Eu estava vivendo para o trabalho e para as atividades do cotidiano, curando uma relação difícil que havia se rompido há meses, mas que ainda não havi...

O amor em mim não faz morada

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arte: @pulpbrother Às vezes me sinto um caminho para o amor Para o amor passar e não ficar   Às vezes me sinto um caminho para o amor Para o amor chegar e pousar e se demorar Para o amor visitar e se hospedar Em temporadas: Dias Semanas Meses Anos Mas ele se vai do mesmo jeito que chegou Ele passa   O amor em mim não faz morada O amor em mim já é morada É uma casa térrea em um terreno sem muros Com cheiro de café fresco, bolo quentinho e grama molhada   O amor que em mim é morada Recebe Aquece Ferve Acalanta Mas ele amorna, esfria e não fica   O amor em mim não faz morada Porque ele se esgota em cada temporada Porque eu não amo a conta gotas Eu amo de inundação De cachoeira De corredeira Eu amo inteira  

Sábado de noite

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Sábado de noite, longe dos perigos noturnos, como diz uma amiga, pijaminha, hidratada, alimentada e segura. Segura de mim, segura do mundo, me sentindo em paz. Tenho pensado muito sobre meu estado de saúde mental e física que, pela primeira vez ao longo desses anos de vida, tem estado em paz. Parece quase um pecado dizer isso aos outros ou escrever de maneira pública, mesmo que tenham menos de seis pessoas me lendo. Estar em paz é uma frase que sempre me lembra a música do Los Hermanos e que aumenta esta sensação. Tem sido curioso comentar com meus amigos, mesmo os mais íntimos, sobre esse meu momento. Invariavelmente recebo um retorno sobre “nossa, ainda não consegui essa elevação”, ou algo assim:  “também, tá com a vida ganha!” (a intimidade às vezes pode ser cruel) e algumas clássicas como “é, né, sem filho pequeno e marido até eu fico em paz”. É engraçado como a gente tem dificuldade de escutar o outro e simplesmente aceitar o que se diz. Sem fazer juízo de valor. Eu sinto...