Leia-me
Faz tempo que não escrevo. Bem,
para os meus moldes, faz tempo.
Escrever é uma das minhas mais
delicadas linguagens, tanto para comigo, quanto para quem presenteio ou mesmo
para quem nem me conhece e tem alguma curiosidade para me ler.
Me ler. Isso é melhor que um “te
amo”. Te amo é falado de qualquer modo, vira lugar comum, expressão corriqueira
para demonstrar um sentimento que está posto – e nem por isso tem menos valor.
Mas “me ler” tem um significado muito mais profundo em minhas emoções. Assim
como substituir o “tchau” por um “te amo” pode ser algo banal, alguém pode me
ler e não entender, não assimilar, não prestar a menor atenção. Mas quando
alguém me lê e compreende o dito, o não dito, as entrelinhas, as métricas, o
caps lock, o sussurro, não importa, porque quando alguém me lê eu me sinto
contemplada. Tudo bem se for apenas um ego que gosta de afago (e qual não gosta?!),
tudo bem se a leitura se resumir a um capitulo, uma página, uma frase, uma
palavra. Não é uma questão de quanto, mas uma questão de como.
Quantas relações desfiz por falta
de uma boa leitura. Com certeza eu também devo ter deixado de ler algumas
pessoas, mas nunca ninguém me falou sobre, mas eu, bem, eu deixo escancarado que
estou indo por falta de uma boa leitura.
Eis o melhor e o pior de mim
No meu termômetro o meu
quilate
Vem, cara, me retrate
Não é impossível
Eu não sou difícil de ler
Faça sua parte
Eu sou daqui, eu não sou de
Marte
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A leitura tem sido minha maior
companheira nos últimos anos, em especial nos últimos quatro e, de lá para cá, isso se
tornou mais que um hábito: virou refúgio, virou lágrimas, virou risadas, virou
prazer, virou historias e virou gente. Quanta gente tenho conhecido por meio da
leitura. Gente de verdade. Gente que é personagem. Gente que também sente
prazer no ato de ler. Gente cuja vida é uma bela história. Gente que
escreve. Ahhhh, a beleza da gente que escreve. Chego a sentir uma alegria
entusiasmada quando encontro com gente que escreve. Não importa o gênero, não
importa o estilo, não importa nenhum tipo de regra, mas gente que escreve.
Gente que dedica um tempo do seu dia para exprimir em palavras aquilo que nem
ela sabe o que é. Gente que consegue se colocar no lugar de outros ou em outros
lugares para se sentir leve, para alegrar quem o lê, para se distrair do que se
vê.
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E nessa toada que minha vida
entrou, nesse ciclo de coisas boas que me acontecem, por vezes tenho que
escolher entre viver com intensidade ou escrever. Nem sempre consigo fazer as duas
coisas simultaneamente. Mas fica tudo aqui, tudo dentro da minha cabecinha repleta
de conteúdo esperando o momento certo para virar letras digitadas em papel
branco.
Papel branco virou licença poética
nos dias de hoje. Eu escrevo em uma tela branca com letras digitadas que não
parecem nada poéticas, até que essa despreocupação com a estética do ato abre
espaço para a celebração da poética dos fatos. Como é bonito escrever sobre o
cotidiano. Sobre o que vemos, o que sentimos, imaginamos, desejamos, sonhamos e fantasiamos. Podemos ser quem e o que
quisermos. É uma liberdade incomum e assustadora. E
arte: @pulpbrother
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