Eu só existo no olhar do outro?

Fiz análise por muito anos. Foram várias as fases da minha vida em que senti a necessidade de ter esse suporte para me apoiar a atravessar tempestades e maremotos, mas recentemente eu optei por pausar. Foi uma pausa “consensual”, no sentido de que minha analista já vinha fazendo esse convite, de que eu estava em boas condições psíquicas de lidar com as questões da minha vida. Desde que ela sinalizou isso, levei ainda uns 3 meses pra admitir que sim, que eu também queria viver comigo mesma, pois já não sentia a necessidade constante de ter um apoio além de mim mesma. E assim tem sido nos últimos 2 meses. Está sendo uma experiência bem nova e muito reconfortante essa de viver sabendo as decisões que tomar. Opa, vou corrigir essa fala. Sabendo não, simplesmente tomando as decisões, mas sem a insegurança tremenda se o que estou fazendo é certo ou errado. Tomo a decisão e tenho tido a segurança de me sentir à vontade com a consequência. Às vezes dá super certo, às vezes machuca, mas nenhuma das vezes eu tenho me sentido perdida ou errada.

Daí que tenho lido um tanto sobre psicanálise porque eu realmente gosto do assunto e ele me abriu tanto para a vida, que passou a ser parte dos meus momentos de relaxamento, mas eu continuo com a sensação que tive nesses últimos quase cinco anos de análise: eu não tô entendendo nada no plano racional, mas meu insconsciente tá sacando tudo!

Quantas e quantas vezes minha terapeuta falava as coisas, na linguagem mais acessível possível e eu custava a entender. Várias vezes ela tinha que fazer analogias, me enviar algum material de apoio para eu entender o que, depois de um tempo de processamento, se mostrava óbvio. E agora que tenho lido alguns livros do tema, direcionados para o público leigo e o sentimento voltou com força. Eu leio e tenho a impressão de que não estou entendendo absolutamente nada. E senti até uma saudade das minha sessões semanais e cheguei a me questionar se eu devo voltar, mas pensando aqui, entendi que o que eu sinto falta da análise era da provocação que minha analista fazia sobre minhas falas. Eu me sentia desafiada com tudo o que ela trazia, com as perguntas que ficavam ecoando em minha mente por semanas e que me faziam mergulhar profundamente em mim.

Tive essa percepção agora, lendo o livro da Ana Suy e do Christian Dunker, porque me parece que não entendo nada do que dizem, mas na verdade eu me sinto tão desafiada a pensar de uma forma diferente, a entender outras perspectivas daquilo que pode parecer óbvio que quase sinto vontade de voltar pra análise.

Mas não é isso. O meu desejo reside no desafio. O meu desejo reside em situações ou pessoas que me provoquem a expandir minha mente, a enxergar possibilidades antes não pensadas por mim, a explorar o inexplicável, não em busca de uma resposta, mas em busca de todo o universo que cabe em certas palavras e seus rearranjos.

Deve ser por isso que gosto tanto de ler. As mesmas palavras organizadas em diferentes perspectivas me desafiam a viver um mundo novo, dentro e fora de mim.

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