Há muita eletricidade em mim

Ao ler esse poema do Otto me veio imediatamente a palavra tédio. Mentira, a primeira coisa que veio foi “em mim também”, a segunda coisa foi “então porque me sinto assim?”, a terceira foi “você ainda tem dificuldade de viver o tédio”, a quarta coisa rebateu “Ju, você precisa aprender a viver os vazio” e só na quinta coisa foi que me veio à mente “tédio” em letras garrafais e neon.

Essa palavra me remete a algo ruim, tempo perdido, desperdício de algo que pode(ria) ser incrível. Negar o tédio gera ansiedade ao passarmos muito tempo pensando com como preencher esse vazio e, quando nosso corpo pede descanso e nossa mente implora pra permanecermos no tédio, inconformados com essas exigências, dormimos. Porque, se não conseguimos fazer nada durante esses mortíferos vazios, vamos apagar, assim não sentimos e não vemos esse tempo dedicado ao nada, passar. E logo surge uma necessidade qualquer que nos obriga a sair desse estado e a agir: fazer comida, lavar a louça, trabalhar, conversar etc.


Abraçar o tédio foi uma das coisas que aprendi em terapia, mas que ainda preciso ser vigilante. A sensação de perda fala tão alto que chega a me deprimir: Como assim não estou fazendo nada?. Como assim não estou sendo útil para algo ou alguém?. E minha mente cria histórias mil pra preencher os vazios que não aceito e, dessa forma, conto a história que quero, crio personagens malignos, me coloco de frágil donzela indefesa e me diminuo, diminuo, diminuo, até me sentir insignificante e cair em lágrimas. 


Se há tanta eletricidade em mim, por que sinto tédio? Hoje já sei com muito mais consciência sobre a importância desses momentos desde a infância até o restante dos nossos dias. É no tédio que abrimos espaços para a nossa “louca da casa” - a criatividade - agir. Sentir o vazio e deleitar-se nele é como deitar no sofá para assistir um filme: você fica ali, descansando, enquanto a mente cria histórias, faz conexões improváveis, busca lembranças, imagina coisas,  até que todo aquele sonho acordado apresenta algum ponto que se destaca e que nos impele a viver a eletricidade em nós.


Ainda tenho muita dificuldade com o tédio. São muitos anos vivendo em alerta, cuidando, resolvendo, colocando em ordem a vida que, usufruir dos espaços vazios parece ser um direito que não tenho.


Um dia, a monotonia

Tomou conta de mim

É o tédio

Cortando os meus programas

Esperando o meu fim

(Música: Tédio - Biquíni Cavadão)


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