“Pergunte pra Ela”
“Pergunte pra Ela” surge de uma recomendação terapêutica. Isso mesmo. Minha terapeuta raramente me diz algo pra fazer, nesses 4 anos de acompanhamento, não consigo enumerar um top 3 de coisas que ela disse pra eu fazer, assim, como uma tarefa de casa e por isso me surpreendi com a recomendação e resolvi “obedecer”. Talvez a palavra soe um pouco forte – obediência – mas é que eu tenho estado tão carente de pessoas que tomem atitude ao meu redor, que quando ela fez essa proposta, eu não questionei e só acatei.
Ela me explicou o motivo disso,
mas vou contando aqui aos poucos, até porque eu sei que minha terapia vai
aparecer muito nos meus textos, mas uma das coisas que gostei que ela comentou
foi que, as dores que são do coletivo precisam ir para o coletivo, ou seja,
preciso externalizar e tornar público. Isso não precisa ser mais uma tarefa, não
precisa ser um trabalho e não importa se terei 1, 10 ou 1 milhão de pessoas me
lendo, o importante é tornar público.
Mas fato é que não considero o
que tenho a dizer relevante o suficiente para tornar público e, tampouco,
percebo que minhas reflexões tem o poder de impactar alguém além de mim, mas
faz parte do exercício, também, não precisar impactar e só externalizar. Fiquei
pensando que talvez um podcast seja mais legal, porque a fala tem entonação,
tem balões que dão mais corpo ao contexto, mas nada impede que esses textos virem
aúdios em algum momento.
É isso, Ju. O pedido foi pra
externalizar por meio da arte, seja lá qual ferramenta eu escolha.
Externalizar. Quando uso essa palavra me vem sempre uma imagem de grito
gutural, de um urro, de algo completamente instintivo, algo que precisa sair de
dentro da gente com uma força incontrolável, violenta e abrupta. Não é,
necessariamente, algo que faça mal, mas é algo que precisa nascer. É isso! É um
nascimento. A palavra externalizar me remete a algum tipo de nascimento.
Se o que nasce vingará, se terá alguma
função, se terá algum sentimento, eu não sei dizer – e nem me preocupo com isso
agora – mas ela precisa sair e cair em algum lugar. Pode ser criada pelos lobos
selvagens de uma floresta intocada (ainda existe alguma?) ou se nascerá no meio
de um grupo de pessoas letradas, educadas, cultas e diplomadas. Foda-se, ela
precisa nascer e não é bem o destino que vai determinar pra onde ela vai,
porque ela vai e ponto.
O nome “Pergunte pra ela” me surgiu
no meio do nada. Acho que eu estava me arrumando para ir trabalhar, após a
sessão de terapia que originou esse “convite” e eu fiquei encafifada com isso.
E pensei que, se alguma coisa te incomoda, “Pergunte pra ela”, se tem algo que
queira saber a respeito de uma mulher, “Pergunte pra ela”, se você pensa algo que
de alguma forma afeta uma mulher, “Pergunte pra ela”. Não infira, não deduza,
não omita: “Pergunte pra ela”. Qualquer coisa.
Deixe que ela decida, deixe que
ela elabore, deixe que ela opine, deixe que ela responda por si. Qualquer coisa
que diga respeito a ela, “Pergunte pra ela”. Não diga a mais ninguém, não
pense, não crie historias imaginárias, simplesmente “Pergunte pra ela”. Pare de
inferir as coisas, pare de mascarar os sentimentos, para de esconder suas
dúvidas e inseguranças sobre ela. Simplesmente “Pergunte pra ela”.
Agora, se não sabe onde está uma
coisa que é sua obrigação saber, não “Pergunte pra ela”. Vá atrás, se
vira, faz seus corre, dá seus pulos!
“Pergunte pra ela” qualquer coisa
que diz respeito a ela. Sua carreira, seus sentimentos, seus quereres, seus
amores, suas angustias, suas dores, seus sonhos.
Aqui você deve encontrar um tanto
de textos que vai julgar feministas, mas sem a menor intenção de letramento.
Porque meu feminismo é muito mais vivido do que estudado e eu tenho muita
preguiça de ficar pinçando excertos de artigos, livros e trabalhos de outros
autores, juntando tudo num documento sem poder emitir minha visão e nem
compartilhar o que sinto correndo nas veias ou marcado em minha pele. Deve ser
por isso que nunca me dei bem no mundo acadêmico, embora tenha um desejo (que
ainda não sei se é realmente meu) de me tornar uma. Eu seria uma acadêmica muito
rebelde e dificilmente seria diplomada. Pensando rápido aqui, talvez, da
academia, eu queira o prestígio, o poder e as portas abertas que esse diploma
tende a provocar.
Talvez esse desejo tenha surgido de
um manifesto íntimo que tenho de ser ouvida, enxergada, respeitada,
visibilizada do jeito que sou. Do meu jeito mulher de ser. Sou mulher. Me
identifico como mulher. Me enxergo fisicamente como mulher. Essa mulher que a
gente se torna e não que nasce, como já dizia a grande acadêmica e feminista, Simoninha.
Tenho um desejo tão grande de ser vista em minhas peculiaridades, incoerências e
atitudes que desejo me tornar uma acadêmica para me sentir respeitada tal qual
os homens são.
Olha só, fiquei feliz comigo
mesma agora ao perceber que depois 834 palavras escritas, saiu a palavra “homem”.
Um dos significados é justamente que uma mulher pode falar sobre muitas coisas
para além de “homem”. E não vou me apegar a palavra agora, depois dessa
percepção, senão o feitiço vai virar contra a feiticeira aqui.
Mas é isso, o “Pergunte pra ela”
tem a intenção de ser um lugar de colocar minha voz de forma pública, sem
filtro e sem crachá, fator que pode me colocar em situações delicadas,
inclusive. Mas não é um lugar de acusação e nem de brigas, pois quero fazer do “Pergunte
pra ela” um espaço de monólogos e diálogos para convertidos e para medrosos. Sim,
aqueles que ainda não são convertidos a uma vida de igualdade e equidade são
medrosos e não tenho receio algum em dizer isso. Tem medo de algo diferente do
que vem sendo construído há séculos e séculos, de uma dominância mortífera, um
pavor do que é que tem dentro do vaso – sim, tô usando essa analogia da mulher
e do vaso porque entendo que é uma boa representação e devo falar sobre isso
nos próximos textos. Me sinto segura em afirmar que dá medo mesmo olhar para
dentro de um vaso grande, profundo e escuro e isso eu consigo compreender, mas
o que não consigo aceitar é permanecer no medo e meus textos trarão muito sobre
isso, pode esperar. Ou não espere nada, também.
Mas por ora, com o “Pergunte pra
ela” eu senti vontade de concluir esse texto de estreia com a frase de uma música
que está em alta no momento e que diz: “Você já decorou quantas tatuagens
tenho?”
Sintam-se à vontade nesse espaço
e “Pergunte pra ela”.
Amei Juhhh
ResponderExcluir