Ela pausa

Ela. Sempre ela. Ela de novo. Ela novamente. Com suas inquietações e a mente agitada e flutuante e congestionada de quereres variados e repleto de cores e humores. Mas ela pausa. Ela pausa e quando pausa ela sente. E sente com tanta intensidade que o fluxo intenso de pensamentos vai abrindo espaço, andando lento e constante. Ela pausa e quando pausa ela sente. Sente o raiar do dia com sua luz a brilhar seu rosto com sono em direção ao sol. Sente o ar morno que toca sua pele ao abrir a porta e permitir que a maciez do ar acaricie sua pele sonolenta e desnuda. O ar quente percorre seu corpo por toda parte, como uma onda que eriça seus pelos e arrepia suas costas até a nuca. Ela se deixa abraçar pelo ar morno por alguns segundos e sente. Sente prazer. Sente vida. Sente desejo. Ela deseja o mar. Ela e o mar. Ela sabe que o ar quente que entra pela porta é um convite para o mar. Ela se arruma, ela se ajeita e ela caminha. Ela está em pausa. Ela suspendeu sua vida e permite ser guiada pelo ar morno, pelo ar salgado, pelo ar cítrico. Ela sorri com o mar umami. E ela sente ainda mais desejo de degustar o mar. Ela observa o mar. Ela silencia ainda mais sua mente que já esteve tão completa. Ela abre espaço com o mar. O mar abre espaço nela. Ela caminha em direção ao mar com o pensamento espaçoso, livre e leve. E apetitoso. Os pensamentos dela estão com fome. Estão desejantes. Estão famintos. Ela entra no mar e a água está morna. A água é o ar em outro formato. Ambos mornos. A água e sua marola deslizam suas mãos por todo seu corpo. Ela sente. É inebriante. Ela fecha os olhos e sente. Ela sente a água que não pede licença, a água que não faz perguntas, a água atrevida, ousada e impertinente. E ela deixa. Ela está com fome. Ela está com sede. Ela aceita a ousadia da água e ela sente o mar. Ela cheira o mar. Ela toca o mar. Ela ama o mar. Ela ama com o mar. Ela ama no mar. E seu corpo escorre, deságua e relaxa.

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