Sedução

 

Ouvi um podcast sobre esse tema e fiquei mexida com o conteúdo.

Me fez lembrar do quanto já fui sedutora e o quanto isso, ao mesmo tempo em que me abriu portas, me colocou em local de risco. A sedução associada à sexualidade em uma sociedade machista e patriarcal é mortífera.

Lembro claramente do dia em que ritualizei durante uma oração, para que minha pomba-gira (que eu nunca soube realmente se tinha) me deixasse em paz, porque eu queria ser vista e aceita por quem eu era e não pela sedução sexualizada que eu emanava e manejava muito bem. Nessa época eu estava entrando fortemente no hinduísmo e queria me desprender de todos os estímulos “carnais”: alho, cebola, café, chocolate, álcool, festas, músicas agitadas e sexo sem compromisso.

Eu não tinha consciência de que estava eliminando o P R A Z E R da minha vida. Eu estava considerando que essas “impurezas” me impediam de acessar minha essência.

Claro que hoje eu sei que isso era radical, doentio e um pedido claro de socorro de mim para mim mesma, utilizando a figura paternalista de um guru de merda, mas, naquela época era o que enxergava como possibilidade de salvação.

Oito anos se passaram desde então e eu já mudei minha perspectiva sobre isso radicalmente. Hoje em sinto mais sensata, mais ciente das manipulações dogmáticas e de como essas coisas se apoderam de nossas vulnerabilidades.

Acontece que desde então eu sinto que perdi minha sedução, seja ela sexual, seja ela a que nos protege e nos coloca em posição de poder, mas não aquele destrutivo.

Nesses mesmos últimos oito anos que passei a acreditar menos no encantamento do mundo e a enxergar as coisas com uma realidade dilacerante, permitindo somente alguns vislumbres de magia.

Nessas horas sinto vontade de voltar a ser mais ingênua e de acreditar mais no outro. Eu sinto falta de me sentir sedutora, desejante e conquistadora. Hoje me vejo tão realista que sinto que não há mais o novo, o surpreendente, o lúdico. Não há mais jogo, nem saudável e nem tóxico (graças!!!).

Mas eu gostaria de sentir um pouco mais de encantamento em mim. De me sentir mágica, brilhante e sedutora. De sentir um quê de feitiçaria em meus movimentos. Ao mesmo tempo não me vejo mais tão pragmática como já fui, controladora e medrosa, mas tem uma ingenuidade do encantamento que sinto falta.

Eu pego no ar para onde as conversas vão caminhar, eu consigo antever a maioria das reações das pessoas, assim como as minhas, e consigo ler o não dito na grande maioria das vezes.

Às vezes eu me esforço para não ver o que vejo e desejo acreditar que pode ser algo diferente, mas na maioria das vezes não é. E, assim, é um pouco subjetivo mesmo, nem sempre é uma situação palpável.

Ao mesmo tempo que amo ter mais clareza da vida, entristeço por deixar de ver a magia. E eu associo a magia à sedução.

Essa falta de mistério nas relações humanas torna tudo tão direto que, embora a previsibilidade nos conforte, ela também angustia.

Então é isso?!

Ser consciente é enxergar tão claramente que a cor se vai? A realidade é como a MATRIX Uma combinação de letras e números em uma tela preta conectada ao cérebro de humanos acinzentados que precisam criar uma realidade paralela para conseguir colorir e sentir? Não dá mesmo para sentir cor, textura, vibração, sabor, na realidade atual?

Se for assim, fica cada vez mais claro o entorpecimento humano, o fetiche por comportamentos ditatoriais e padronizados. Parece que ser zumbi é mais confortável do que desfrutar da possibilidade de ver beleza nas coisas.

Eu quero voltar a me sentir sedutora. Não mais a juvenil sexualizada, mas também posso, mas aquela que deseja e que se sente desejada.

Talvez eu não tenha vocação para ser medianer. Eu realmente não gosto de uma vida mais ou menos, mas também não quero viver nos extremos. Como lidar com isso de forma saudável?

 

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