Pequenas coisas como estas / Claire Keegan; tradução por Adriana Lisboa. - Belo Horizonte: Relicário, 2024


Percebi o livro melancólico e solitário ao retratar um homem, trabalhador e pai de 5 filhas, que começa a pensar e questionar se a vida que leva faz algum sentido.

A mesmice dos dias e a previsibilidade dos acontecimentos, marcados por uma cultura e religião protestante o entendiam e levam-no à refletir sobre o propósito da sua rotina, desse labor e seus privilégios, fruto de um trabalho árduo, consistente e resignado, em relação a desigualdade que assiste em sua pacata e obediente cidade.

Sente-se impelido a "quebrar alguma regra", embora essa intenção não esteja explícita na história, mas dá o tom da personagem, o que o motiva a salvar uma das meninas da lavanderia que ficava em um convento, lugar conhecido por "acolher" meninas grávidas consideradas impuras e que fugiam as regras da sociedade. Elas eram submetidas ao trabalho escravo de limpar e lavar impecavelmente as roupas que ali eram trazidas pelos moradores e tinham seus filhos vendidos ao estrangeiro pelas freiras. 

Após uma sequencia de acontecimentos silenciosos, ele resgata uma dessas meninas na noite de Natal e a leva para casa, sabendo que "o pior ainda estava por vir", mas estava convicto que fazia o certo, pois nada seria pior do que o que essa menina já tria sofrido.

Como o livro se passa no inverno Irlandes, em um cenario de frio cortante e neve, a melancolia é típica daqueles dias e lugares úmidos e nublados.

Lembrei, logo no início do livro, que esta historia poderia ser uma representação teatral do livro "A ética protestante e o espírito do capitalismo", de Max Weber, que tanto estudei na faculdade de sociologia. Curioso é que Weber o escreveu em 1904, enquanto esta historia se passa em 1985, o que nos leva a entender a perpetuação da formação da classe trabalhadora, da burguesia e de toda a cultura dogmática que se formou ao redor do trabalho, sendo considerado o maior modo de louvar a Deus.

Frases que me chamaram a atenção nesse livro:

"Seria a coisa mais fácil do mundo perder tudo" - pág. 18

"Como seria a vida, ele se perguntou, se lhes fosse dado tempo para pensar e refletir sobre as cosias?" - pág. 25

"Utimamanete, andava inclinado a imaginar outra vida, em outro lugar, e se perguntava se isso não estava em seu sangue (...) Parecia apropriado e ao mesmo tempo profundamente injusto que uma parte tão grande da vida fosse deixada ao acaso." - pág. 61

Tudo o que aqui escrevo é de cunho pessoal e não tem a pretensão de ser uma resenha. É apenas uma maneira de manter registrada minhas leituras.

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