De quatro / Miranda July; tradução Bruna Beber. – 3. ed. – Rio de Janeiro: Amarcord, 2024
Esse foi o segundo livro que li em 2024 (mesclando com outros ainda não terminados) e eu tô assim, sem saber exatamente o que achei dele.
Por enquanto, tenho dito que eu
gostei, mas não amei. É um bom livro, mas não é incrível. Tem partes bem
excitantes, outras bem chatas que vale ter aquela leitura meio rápida, pulando parágrafos.
Eu gostei muito de algumas
provocações que o livro me trouxe, como a utilização dos pronomes neutros ao se
referir a Sam, seu filhe. Gostei da maturidade de seu casamento, que me pareceu
pautado com muito diálogo (até mesmo nos momentos em que o silêncio foi a
ferramenta escolhida para lidar com uma situação incômoda e que precisava de reflexão
por Harris, seu marido).
Gostei muito das discussões mentais que ela tem ao longo de todo o livro, porque retrata muito do nosso cotidiano – pelo menos o meu – que pensa mil coisas ao mesmo tempo, tem desejos aparentemente absurdos, depois volta e pensa que tá ficando maluca, como um “credo, que delícia!”, porém, os desejos vão tomando tanto corpo que fica impossível não realizá-los, mesmo que sejam controversos à sociedade.
"A súbita ausência de responsabilidade era como a antigravidade, flutuante, espumosa, quase alucinógena”.
Exatamente o que senti quando vim morar sozinha, pela primeira vez na vida, aos 43 anos.
Me identifiquei muito com a
necessidade que ela encontrou de criar um cenário só seu, um ambiente real, do
seu jeito (que ela nem sabia qual era e que nunca tinha dado espaço e dedicado
seu tempo para isso) – é incrível como depois dos 40 a gente passa a olhar ao
redor e fazer uma espécie de limpa sobre o que gostamos ou não. E senti que ela
fez isso. Gostei da abordagem que ela tem sobre a perimenopausa, pois não
aprofunda, não tem a intenção de letramento algum e apenas compartilha as
surpresas que essa fase nos apresenta, nos deixando confusas, inseguras e ao
mesmo tempo corajosas. Além disso, ela tem uma rede de apoio emocional muito
forte e isso a ajuda a passar por essa fase meio distópica (é assim que percebo
comigo quando me sinto vivendo em um universo paralelo com essas
mudanças hormonais).
E em relação aos desejos sexuais
experimentados, essa coisa meio alucinante sobre 40+ se envolver com homens
mais jovens (carinhosamente chamados de Mucilon) e que tenho
percebido uma construção dessa narrativa muito forte pelo cinema e pela
literatura, o que me faz questionar se a arte está representando a vida ou se a
vida está reproduzindo a arte, mas enfim, ela tem um frenesi, quase uma
obsessão pelo Mucilon que conhece e esse acaba sendo o ponto de partida para toda
a viagem sobre si mesma que resolve embarcar, até levá-la de um jeito muito
despretensioso a uma relação magnífica com uma mulher bem mais velha que ela,
seguida de relacionamentos homoafetivos, mesmo mantendo seu casamento e isso não
sendo uma traição (tem que ler o livro pra entender todo o contexto).
“Eu não sentia as amarras da minha idade e da feminilidade e, por isso, dava braçadas em áreas novas e amplas da liberdade e do tempo.”
Gostei muito da perspectiva de
novas formas de viver um casamento. Tenho refletido sobre isso no último ano e
acredito que seja possível, mesmo sem ainda encontrar alguém para explorar essa
possibilidade comigo.
Considero o livro divertido e com
pontos altos e baixos de emoção, igualzinho nossa vida. Descrevendo tudo o
que fiz até agora, chego a conclusão de que gostei bastante dele, pois não
encontro algo que tenha desgostado. Até porque, eu ansiava por chegar logo em
casa e ter tempo de lê-lo, para saber qual a “maluquice” ela iria aprontar
em seguida, talvez porque eu esteja vivendo exatamente como ela: em queda livre
hormonal e com mais tesão pela vida, de tal maneira que deixar de sentir com
intensidade um dia sequer parece afetar toda uma existência.
No final, eu recomendo muito esse
livro, principalmente se já estiver na perimenopausa, independentemente da
idade em que se encontre.
"E, claro, no patriarcado, seu corpo ainda não pertence a você até que ultrapasse a idade reprodutiva".
Talvez essa seja a percepção de liberdade que passamos a sentir com a maturidade. :-)
Tudo o que aqui escrevo é de cunho pessoal e não tem a pretensão de ser uma resenha. É apenas uma maneira de manter registrada minhas leituras.
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