Virou cocô

Isso me faz pensar em tantas que
habitam em mim. E é bem verdade, habitam muitas mulheres dentro de mim. Muitas.
Mas consigo identificar um fio condutor em todas elas, que é um apreço, um
cuidado, um gosto especial pelos temas existenciais.
Os textos que tenho lido, sejam
crônicas, romances, blogs, newsletters, não importa, todos eles tratam de
questões da humanidade, de posicionamento de um eu em eterna descoberta. E eu
acho isso lindo! Um amigo meu diria que “ eu não acho nada”, mas aqui, nesse
espaço, vou usar minha liberdade poética e não vou substituir “acho” por nenhuma outra palavra. Até porque,
no sentido que escrevo, esse “acho” carrega uma transitoriedade, uma ideia de
que é incerto e altamente mutável.
Partindo dessa ideia, posso dizer
que hoje tenho uma escrita existencialista, mas não sei dizer se sempre foi
assim ou mesmo se permanecerá assim. O que sei é que falar sobre as questões da
vida, ora sob meu olhar pessoal, ora sob o olhar sobre o outro, me atrai e é
onde quero estar neste momento.
Não falar sobre existencialismo
me dá uma sensação de não viver, não ser ativo, não ser atuante e não ser
protagonista na vida. Olha aí, mais uma vez, o protagonismo aparecendo em minha
escrita. E se vem assim, de forma livre e espontânea, é porque tem permeado minha
consciência e reforçado a minha necessidade de me fazer presente.
Então, agora mesmo, estou na
academia, fazendo bicicleta. Escolhi aquela que tem encosto, assim posso ficar
mais confortável fazendo meu aeróbico enquanto vejo notícias, memes, zero as
mensagens do whatsapp, leio e-books e, agora, escrevo no meu bloco de notas.
Mas é que estou aqui pensando milhares de coisas diferentes quase que ao mesmo
tempo e escrever me ajuda a dar vazão a esse mundaréu de ideias, imagens,
histórias que vão pipocando na minha cabeça.
Se misturam a cenas que vejo, a
cheiros que sinto, ao movimento que minhas pernas estão fazendo e, como estou
fazendo outra coisa, esqueço do exercício, que considero bem chato, por sinal,
e consigo dar vazão a tudo isso que explode aqui dentro. Explode? Será essa a
palavra certa? Talvez não, vou trocar por “borbulha” porque é assim que as
ouço, como borbulhas de uma água fervente, que dependendo de como será usada,
pode queimar ou pode simplesmente preparar um delicioso café ou chá.
E as ideias são muito
independentes, elas têm vida própria, escolhem a hora que vão chegar, não
importa se estamos no chuveiro, no banheiro ou dormindo. Elas surgem, ocupam
nosso tempo e, não raro, grudam na gente. E escrever permite esse esvaziar,
permite esse dar espaço para novas ideias surgirem, nessa meiose muito louca
que forma a vida, seja ela biológica ou simbólica.
Mas depois dessas digressões
todas, quero voltar lá pro primeiro parágrafo, quando eu disse que tenho lido textos
que poderiam ser meus. Essas pessoas com as quais me identifico escrevem com a
alma. Percebo-as de forma autêntica, despretensiosa em relação ao leitor, mas
completamente intencionais quanto a necessidade do que tem que ser tirado de
dentro delas.
É porque as palavras libertam,
mas também aprisionam. Você já se sentiu presa em uma palavra? Ora porque ela
não vem, ora porque ela não te solta! E existem várias formas de dar vazão às
palavras para além da escrita, mas me parece que todas as suas outras formas de
existência passam por esta.
E assim eu sigo, concluindo meu treino de bike satisfeita por ter conseguido ir tão longe no exercício e no esvaziamento das palavras da minha mente. Mesmo sabendo que abri mais espaço as filhotas que surgirão, sinto um alívio por ter deixado ir. Pensando aqui, palavras são como cocô. A gente vai sempre produzir - enquanto vivos - e precisam sair. Causam muitos problemas quando saem sem controle ou quando resolvem ficar presas eternamente naquele que é considerado nosso segundo cérebro! (Hahahahaha…que ridículo, Ju! Você escreveu até agora, pedalou 30 minutos colocando palavras no papel pra no final considerar tudo isso um cocô?!).
Mas pensando bem, cocô nutre e alimenta novas vidas. Então, esse texto pode ter realmente um final (ou seria começo?) para adubar outras ideias.
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