Vai-e-vem
Aqui tudo é úmido. Tudo molha. Não seca nunca. O ar é quente e úmido e fica quase impossível de eu não fazer alguma associação com o nosso feminino íntimo. Não é sobre sexo, é sobre a abertura e disponibilidade do corpo. Quente e úmido. Disponível para o coito. Disponível para o esperma. Disponível para a fecundação. Disponível para a geração. De um outro ser. De um outro corpo quente e úmido. Não necessariamente. Mesmo parada, meu corpo escorre. Uma gota percorre meu braço, meu antebraço, minha cintura e só encontra obstáculo no tecido do biquíni, um impedimento não previsto, que não deveria existir, mas está ali. O corpo da gente não foi feito para ter obstáculos. O corpo da gente foi feito para escorrer livremente, suar em todas as curvas, entranhas, buracos, depressões. O suor fluido, um líquido salgado e nutritivo que permite nosso equilíbrio com o ambiente. O suor que nos avisa: olha, seu corpo está esquentando acima do que deveria e por isso vamos deixar sair o excesso, vamos soltar em sua pele, na sua cabeça, rosto, pescoço, colo, seio, umbigo, ventre, virilha, coxa, joelho, panturrilha, tornozelo, pés e dedos dos pés para que haja o equilíbrio. Pode parecer incômodo, e é, mas também é impossível impedir. Tem gente que tenta, que obstrui quimica e fisiologicamente, mas o corpo da gente é natureza e natureza sempre encontra um jeito de fluir, independente do obstáculo. Suor pode ser um incômodo social, mas é a maneira que o corpo tem de nos salvar da própria natureza. Aqui, enquanto as gotas escorrem pelo meu corpo e encontram os obstáculos do biquíni, deixando o tecido úmido e macio, observo a água do mar que vai-e-vem, aquele ciclo gostoso e calmante provocado pelo vento e pela Lua. Mesmo que seja o sol o protagonista do momento, a Lua permanece exercendo uma grande influência no movimento das águas. Que agora estão baixas, mas em breve se tornarão altas. Vão esconder as pedras que agora se destacam à beira-mar. E esse movimento das águas influenciado pela Lua é o mesmo que influencia a gota de suor que escorre pelo meu corpo e mantém meu equilíbrio interior com o exterior. Um exterior que deseja suar, transpirar, escorrer e umedecer até extasiar, até se sentir parte (gotas escorrendo entre meus seios provocando suaves cócegas) de um mar, de um vai-e-vem, de ondas e marolas, que permitem a alegria daqueles que se arriscam a equilibrar em suas pranchas, em ondas, no vai-e-vem e na marola de um corpo que sua, que transpira e que equilibra.
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